49 tons e meio de cinza no meio do céu. E alguns relâmpagos.

Nota do autor antes do texto: As mulheres que acham o psicótico-ninfomaníaco um exemplo de homem, só pensam assim porque ele é bilionário. Se ele fosse pobre, aposto que não assinariam os termos e condições de uso em troca de um barraco em Itaquá.

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Sexta-feira, por volta das dezoito e trinta. O céu desabava como num filme de ficção científica e eu só esperava as naves extraterrestres passarem bem ali no longínquo tom uniforme de cinza que se estendia como uma lona acima de nós. Eu assistia a tudo isso com a maleta na cabeça, abaixo da cobertura de acrílico da estação do metrô.
Olhei calmamente para o relógio no pulso e que, pelo visto, já não queria mais funcionar. A chuva continuava a cair e eu não tinha como correr. Suspirei colocando novamente a mala sobre a cabeça. Foi aí que vi uma pequena cafeteria aberta do outro lado da avenida. Atravessei.
Uma das vantagens de se trabalhar no alto da Zona Sul é a de poder sempre se deparar com pequenas cafeterias a la francesa esperando por seus empresários e suas pequenas reuniões no final do expediente. Eu não era empresário, nem francês, mas até que um café cairia bem naquele tempo feio. E era também um pretexto para esperar o tempo amenizar e tomar rumo para meu pequeno apartamento próximo ao Centro.
Atravessei fora da faixa ao som de buzinas e água, mas correndo como nunca. Talvez, naquele momento, tinha feito até o vento ter inveja de mim. Entrei correndo pela porta de vidro e pela sinetinha. Pedi um café quente num copo de 500 mililitros e me sentei numa poltrona fofa, e que também sabia se portar como uma esponja. Enquanto abria a maleta para pegar alguns documentos e recomendações, meu olhar se desviou a uma linda garota, alguns anos mais nova. Ela era linda, tinha um sorriso encantador e trazia em sua mão direita um copo de cappuccino, enquanto na sua esquerda, segurava um volume dos 50 tons de cinza -não sei se era o primeiro, o segundo ou o terceiro, mas era um.
Atrapalhado, resolvi impressionar e peguei o primeiro livro que vi na prateleira da livraria. Kafka para apressados. Uma escolha mais do que imbecil, mas ela sorriu do outro lado, desviando lentamente seu olhar das linhas do livro para as linhas mal-feitas da minha barba.
O garçom trouxe o meu café. Ela fitou novamente, ainda com seu sorriso. Pedi ao garçom que esperasse, peguei um guardanapo e escrevi nele com minha Bic preta. Coloquei sobre sua bandeja e mandei que entregasse. Ela corou.
O garçom ia na direção da garota com o bilhete. Ela aguardou, enquanto fechava lentamente seu livro. O garçom, então, entregou o guardanapo escrito a ela.
Ela o abriu e o meu coração disparou. Enquanto lia, seu sorriso ia se fechando. Finalmente, enfureceu-se, amassou o guardanapo e se levantou. Ao passar por mim, tacou o guardanapo na minha cara e gritou:
– VÁ QUERER COMER O CU DA SUA VÓ ALGEMADA, SEU ESCROTO! – e saiu porta afora.
Como quem não queria nada, reabri o bilhete e olhei onde havia errado. Fiz toda a listagem de posições sexuais, tudo o que ofereceria a ela se transasse comigo, mesmo não sendo muito, e com quatro espaços para que ela assinasse. Ela não assinou. E ainda me insultou.
Queria saber quem foi que disse para a imbecil da autora que um contrato sexual funciona no dia a dia. Talvez sua intenção era apenas de tentar fazer mais um roteiro imbecil de filme pornô.
Enquanto isso, resolvi tomar o meu café e olhar pelo vidro molhado da cafeteria. O céu agora se dividia em dois tons de cinza…e alguns raios também.

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